O ato de ir contra o que não podemos mudar gera desapontamentos e sofrimentos, pois há coisas que são imutáveis, aspectos e condições fora de nosso alcance e controle. Você não pode mudar a lua cheia, a maré alta, por exemplo. Coisas externas a você, geralmente, ocorrem por si só, não temos controle efetivo sobre elas. Por isso, lutar contra determinados fatos é perda de energia. A aceitação nos proporciona coragem, compaixão e sabedoria.
Este conteúdo é uma interpretação pessoal do livro “As 5 coisas que não podemos mudar – E a felicidade que encontramos ao aceitá-las”, de David Richo. Para elaborar o texto, levei em conta a metodologia do Instituto Holos, denominada de Sistema ISOR® e considerada como uma eficaz coletânea de instrumentais holossistêmicos para a Formação de Mentoring, Coaching e Advice Humanizado do Brasil. O Sistema ISOR® se relaciona com a compreensão isomórfica, capaz de alterar de maneira significativa relacionamentos e percepção da vida. É dessa maneira que alcançamos a coerência com o Todo, ampliamos nossa visão de mundo e obtemos o autoconhecimento, indispensável para alcançarmos a liberdade interior.
Nós temos um condicionamento muito forte que trazemos dos primórdios da nossa vida. Na infância, criamos o hábito de nos fixarmos a coisas de que gostamos e de rejeitarmos o que não gostamos. Observe sua vida de adulto e reflita se você é conduzido por esta dualidade, de buscar o que quer ou faz bem, e procurando constantemente se livrar daquilo de que não gosta. Tudo isso para encontrar o bem estar ou felicidade. Quando existe algo que você não gosta, você fica chateado, rejeita aquilo, quer manter distância do que não provoca agradabilidade. Você entra em uma avenida com trânsito engarrafado, fica chateado devido a esse trânsito e já começa a reclamar, dizer palavrões, porque o trânsito intenso é algo que você rejeita. Quando há algo de que não gostamos, surge uma rejeição, um desconforto e as consequências disso é ficarmos ansiosos, nervosos, perdermos o eixo ou o centramento pessoal. Agora, quando há algo de que gostamos, aí nos apegamos com aquilo, e isso também pode ser considerado um problema.
É como se fosse uma gangorra, quando sobe você gosta, quando desce você não gosta. O pior que é assim o tempo todo. Essa questão se torna muito presente em nosso cotidiano e acabamos tendo uma fonte de felicidade baseada na dicotomia gosto e não gosto. Dessa forma, devemos lembrar da existência de uma Sabedoria que precisamos utilizar: Não devemos ficar dentro daquilo que a gente não gosta e nem se apegar ao que gostamos. Devemos ter um equilíbrio, já que não somos (ou não devemos ser) governados pelo gosto e não gosto. Esse equilíbrio possibilita que haja uma comunhão, uma harmonia, ou seja, há o surgimento da liberdade. Crie essa liberdade em sua vida. Por meio dessa reflexão, você pode se livrar de uma enorme gama de sofrimentos e da infelicidade e ter uma vida mais feliz.
A primeira aceitação presente no livro é: Tudo muda e termina. É natural que na nossa vida tudo esteja mudando a cada segundo, e as coisas comecem e terminem. O nosso corpo, por exemplo, quando é um embrião, se junta com o ventre da mãe, os órgãos são formados e a gente nasce, mas lá no fim da vida, na hora da morte, há uma dissolução desses elementos ar, água, terra, calor que formam a parte física, termina.
Precisamos entender que todos os processos ou ciclos que finalizam se transformam e iniciam um novo ciclo. Precisamos entender que não precisamos ficar presos ao passado, porque aquilo que aconteceu já não existe mais, logo, podemos nos desligar do passado. Essa visão de ciclos também deve ser uma constante em nossos conceitos. Pense por um instante: Quantos conceitos você tem hoje que estão atrapalhando a sua vida, mas mesmo assim você os carrega dentro de você. Vivemos muitos ciclos ao mesmo tempo. Precisamos ter uma aceitação da impermanência, porque a vida não é linear. Não existe felicidade para sempre. Você pode até ter níveis mais profundos de felicidade que podem se internalizar quando você tem uma elevada evolução espiritual. O entendimento dessas mudanças faz com que nos libertemos de apegos, prisões do passado. Temos a ideia de que devemos comandar tudo. Na realidade, não comandamos nada. As coisas acontecem por si só e temos que aceitar essas mudanças como naturais. Precisamos aprender a largar o comando. As coisas não estão sob o nosso comando. Porém, convém destacar que planejar o futuro, lutar para que haja realizações pode ser feito. É uma atitude saudável e necessária para o nosso crescimento pessoal e profissional. Contudo, tenha em mente o seguinte: fora o espaço, que é eterno, tudo está em constante movimento. Quando aceitamos isso, as coisas mudam, compreendemos que não dá para manter sempre as mesmas coisas e nem refazer o passado. Há um alívio em nosso coração quando aceitamos a vida com as suas próprias leis. Fazemos parte de um todo, de algo maior que nós, portanto, não somos separados das Leis da Vida.
A segunda aceitação é: As coisas nem sempre saem de acordo com os nossos planos. Nunca teremos certeza de nada. Por exemplo, se você tem um plano para casar daqui a duas semanas, mas vem uma grande tempestade que acaba impedindo a realização do casamento, a noiva foge com alguém ou ela acaba morrendo… pode acontecer qualquer coisa, porque a vida tem essa característica de ser probabilística. Então, não adianta ficarmos chateados quando alguma coisa não sai conforme os seus planos. As coisas podem (ou não) acontecer do jeito que queremos. É uma característica probabilística. Nós podemos ter planos, mas não nos aprisionemos a eles. Quando você quer que aconteça alguma coisa que almeja muito, leve em conta esta regra básica: crie condições e causas. A causa é aquilo que vai concretizar, e as condições têm que ser adequadas para que aquelas causas funcionem, aí você terá um acontecimento, mas se não houver nem causas e nem condições, as coisas não funcionam. Exemplo: Você fez curso para se tornar um Mentor ou Coach de sucesso, no entanto, faltam relacionamentos com possíveis futuros clientes. As causas não estão presentes e você precisa criá-las. Por isso, não coloque sua felicidade em um acontecimento externo, porque você nunca sabe se as coisas sairão conforme os seus planos, não há certezas. Por isso, é importante termos discernimento e Sabedoria que nos ajudam a entender que as coisas podem não sair segundo nosso planejamento e, apesar disso, ficaremos tranquilos, não iremos sofrer.
Terceira aceitação: A vida nem sempre é justa. As pessoas estão sempre buscando uma justiça, vão à luta pela justiça. Mas temos que aceitar essa Lei da Vida, muitas vezes, a justiça não vai acontecer. Precisamos aceitar os acontecimentos como são a cada momento, e a vida como ela é. Não adianta gastar energia com reclamação, essa energia somente aumenta o sofrimento. As buscas por justiças acontecem em nossa mente. Agora se você olhar para fora, olhar para a cidade, para o universo você vai perceber que tudo é muito neutro. Lá fora só há eventos, acontecimentos. O universo todo é uma série de eventos, mas quem dá nome a eles? Somos nós. Temos um raciocínio comparativo – gosto e não gosto, bom e mal. Estando nessa dualidade, começamos a comparar. Precisamos, em primeiro lugar, aceitar a realidade como ela é, porque quando você aceita a realidade, você encontra a paz, isso não significa ser um conformado. Sim, você pode ajudar a melhorar mundo, as pessoas, mas entenda que as coisas são como são, não há como mudar o acontecimento. Podemos mudar a nossa maneira de ver e, então, deixamos de ser (ou nos fazermos de) vítima. Quando somos vítima, estamos buscando um culpado, ou seja, perdendo energia e foco no que é relevante à nossa Vida. Reivindicamos coisas, aí vem o sofrimento.
Quando estamos presos em conceitos, podemos viver em insatisfações. Se você quer mudar o mundo, mude sua mente antes. Nós temos um mecanismo dentro de nós que se chama ignorância, porque não entendemos que criamos nossa realidade, que damos nomes a tudo, classificamos de bom e mal, reflexo do raciocínio comparativo. O problema é que não entendemos o que é a Vida e criamos sofrimentos desnecessários. Precisamos aceitar o que é, aceitar que tudo muda. Isso vai trazer um nível de felicidade, de soltura interna, de liberdade porque você não está mais lutando contra. Lembre da oração da Serenidade, que aliás também é citada pelo autor do livro. Leia o seguinte trecho da prece: “Deus, conceda-me a serenidade para aceitar aquilo que não posso mudar, a coragem para mudar o que me for possível e a sabedoria para saber discernir entre as duas”.
Precisamos ter coragem para aceitar aquilo que não podemos mudar. Temos que ter consciência de que criamos sofrimentos a partir da não aceitação. Mas, claro, podemos ter uma postura centrada, condutora para propor soluções ao que é possível mudar e aceitar o que não é possível alterar. Temos autonomia e capacidade para nos autoconduzirmos pelo mundo. É mediante uma postura centrada que exercemos esse nosso potencial, que nos leva a perceber que somos gestores de nossas vidas, que estamos no controle de nossas ações que vem do nosso interior e não somos marionetes nas mãos de outras pessoas. É também com esse voltar-se a si que conquistamos o estado de atenção ao momento presente e adquirimos uma postura de quem soluciona e não reclama. Olhe o mundo sem se afetar por ele, mas com atenção e paz interna para ver a vida como ela é. Somos criadores do nosso mundo. Quando o centramento funciona, o campo da intuição se abre e conseguimos entender as pessoas, surge a empatia e nos conectamos com o outro e nossa comunicação flui de modo mais eficaz.
Vamos para o quarto ponto: A dor faz parte da vida. Quer queira quer não, você vai ter dor, pode ser um sofrimento, uma tristeza, um desapontamento, uma decepção… as dores fazem parte da natureza humana. Estamos tão repletos de conceitos, aceito e não aceito, gosto e não gosto, que nos prendemos à “matri”x, mas temos que aceitar o conflito, as dificuldades. Se temos alguma coisa boa, temos também uma não virtude, o oposto, a sombra. Se temos algo positivo, daquele algo positivo, sempre haverá algo negativo também. Não há, portanto, uma felicidade plena, justiça plena, porque do outro lado tem injustiça. É, por isso, que ministro cursos de treinamento pessoal e profissional, para levar luz às pessoas, despertá-las da ignorância. O papel do coach e do mentor é conduzir ao despertar da ignorância, a uma vida com mais coerência. Quando você tem uma dor, a primeira coisa a fazer é não lutar contra a dor, é acolhê-la. O acolhimento da dor diminui o sofrimento, quando você luta contra a dor, o sofrimento é multiplicado. A dor não é sua, ela está lá, mas não lhe pertence. Deixe a dor e continue a sua vida. A mesma coisa a depressão. Deixe ela e siga adiante. Vai passar. Tudo passa. Você vai vencer. Quando temos uma profunda consciência da nossa influência sobre as outras pessoas e o quanto podemos ativar a nossa compaixão interna, nos tornamos pessoas mais felizes. Segundo ensinamentos budistas, ao assumir a dor dos outros, purificamos essa dor dentro de nós.
A quinta aceitação: As pessoas não são amorosas e leais o tempo todo. Não deixe a sua vida na mão de outro alguém. Não espere que as pessoas façam você feliz, porque em algum momento, elas não serão amorosas com você. Pessoas são seres humanos, há momentos que estão chateadas, nervosas, irritadas. Todos temos altos e baixos. Às vezes, uma amizade dura muito tempo, mas a pessoa com quem você mantém a amizade pode se tornar desleal e você não saber o porquê. Você precisa aceitar as probabilidades. Não espere nada dos outros, apenas faça os outros felizes, esta é a sua parte. Há dias que precisamos falar menos, tomar certos cuidados em relação às outras pessoas. Não podemos mudar ninguém, mas podemos confortar e amar nossos próximos. É o amor que nos move e nos liberta, nos torna plenos. Ame e aceite as coisas como são. Isso traz um conforto, um alívio interno. Melhore o mundo naquilo que você pode melhorar, mas entenda a vida, procure desenvolver sua mente para ser cada vez mais sábio.
Quando ouvimos que a felicidade está em nós, quer dizer que temos condições para ativar esse estado, independentemente do que se passa (ou acontece) fora de nós. Acionar uma Consciência Plena envolve orientar a mente para o autoconhecimento, que propicia uma série de benefícios, como entendimentos, autonomia, postura prestativa, prática da espiritualidade. Benefícios que se revelam como Sabedorias e levam a criação de uma vida mais livre de angústias e sofrimentos. Todos nós podemos ativar a Consciência Plena (estado de atenção), que também nos faz ficarmos sintonizados com o momento presente. Quanto mais praticarmos essa habilidade, mais natural ela fica em nossa vida. Aliás, é o que propicia uma Vida Preciosa, ou seja, vivermos uma vida que vale a pena ser vivida.
Você sempre vai até certo ponto. Gosto muito deste trecho que consta no livro. “Há uma vitalidade em nós, um brilho – uma fogueira, na verdade – que não pode ser extinta por qualquer tragédia. Algo em nós, um desejo de totalidade, uma paixão por evoluir, nos faz continuar, começar de novo, não desistir, não desistir.” Eu tinha um mestre espiritual que dizia “keep going”(continue andando!)”. Haverá altos e baixos, mas continue em movimento. O que impulsiona você a não desistir?
