Afinal, Qual é a Diferença entre Psicologia e Coaching?

Forte polêmica surgiu a partir da forma de utilização do Coaching em novela da TV, que trouxe à tona um conflito, até então mantido na surdina, em relação às funções atribuídas ao Coaching, muitas vezes questionadas por psicólogos. Psicologia e Coaching seriam a mesma coisa?

Do meu ponto de vista, não há razão para tal conflito, pelo menos não do ponto de vista dos objetos da Psicologia e do Coaching.

Diferentes origens da Psicologia e do Coaching

A Psicologia derivou, a partir do final de do século XIX, da medicina enquanto preocupação com as doenças e desvios mentais. Até então estudava-se psicologia no âmbito da filosofia. Adquiriu status de ciência a partir da Psiquiatria, como especialidade médica. Custou um pouco mais para adquirir status próprio como ciência.

A Psicologia é reconhecida como ciência há pouco menos de cem anos e era exercida, até mais da metade do século XX, sem uma regulamentação profissional. No Brasil o Conselho Federal de Psicologia só foi criado em 1971, há meio século, portanto. Isto não impedia os enormes benefícios que a Psicologia proporcionava e continua a proporcionar a milhões de pessoas.

A Psicologia é a ciência que estuda o comportamento humano e seus processos mentais.

Por sua vez, o Coaching é uma modalidade um pouco mais nova de lidar com o comportamento humano, que surgiu a partir da década de 1970, quando a Psicologia já era reconhecida e normatizada.

Surgida do meio esportivo, onde o coach é um treinador de alguma modalidade esportiva, o Coaching foi adquirindo consistência como uma metodologia pedagógica aplicável a uma enorme gama de possibilidades da realidade humana.

O Coaching é, pois, uma metodologia pedagógica utilizada para desenvolver melhor o potencial existente em cada ser humano. Utiliza-se principalmente de técnicas de motivação e organização que possibilitem desenvolver em seus clientes habilidades para enfrentar os desafios que encontra em seu meio, seja profissional, seja pessoal, buscando gerar hábitos mais saudáveis e produtivos em busca de realização de objetivos que redundem em resultados positivos.

Diferenças entre Psicologia e Coaching

A partir de suas origens já se evidencia a principal diferença entre a Psicologia e o Coaching.

A Psicologia tem sua origem na medicina. Ela é, originalmente, voltada para a cura das chamadas doenças mentais. Seu fantástico desenvolvimento como ciência ao longo desses mais de um século levou a aprofundar o conhecimento do processo mental e comportamental humano, com apoio em outras ciências que iam emergindo a partir do meio médico, tais como a neurologia, a biologia, a enfermagem, a medicina esportiva e outras. Também influencia e é influenciada por uma vasta gama de outras ciências voltadas para o ser humano, tais como a antropologia, a sociologia, a ciência do conhecimento, a cibernética, a administração, etc.

O Coaching, por sua vez, tem sua origem na pedagogia esportiva. A pedagogia é a ciência da aprendizagem e da orientação das pessoas nos mais diversos sentidos. O coach era, originalmente, um técnico que orientava suas equipes, desenvolvendo um planejamento estratégico e dando-lhe acompanhamento a fim de obter determinado objetivo.

Simultaneamente, o próprio Tim Gallwey, seu criador, influenciado pela Psicologia e por métodos orientais, como a meditação e o centramento, direcionou o Coaching como metodologia de ativação das potencialidades adormecidas nas pessoas.

De uma forma bem simples e didática, pode-se dizer que a Psicologia busca no passado as causas dos comportamentos manifestados por uma pessoa, a fim de proporcionar-lhe superação e redirecionamento em sua vida pessoal, relacional e mesmo profissional.

Por outro lado, o Coaching é um conjunto de ferramentas e disciplinas que busca o desenvolvimento pessoal e profissional de uma pessoa ou um grupo de pessoas. O Coaching é, antes de mais nada, um processo de aprendizagem do fazer, do realizar.

Em função disso, quanto a seu objeto e metodologia, Psicologia e Coaching não se confundem e, por isso mesmo, não há por que haver conflito entre as duas disciplinas. A confusão pode acontecer quando uma invade a área da outra. A Psicologia pertence ao conjunto de instrumentos e metodologias terapêuticas do comportamento. O Coaching se vale de um conjunto de ferramentas, disciplinas e metodologias pedagógicas. É um processo de ensino-aprendizagem, antes de mais nada.

Onde Psicologia e Coaching se encontram

Nas suas mais diversas aplicações no contexto pessoal, familiar, grupal, organizacional e social as duas disciplinas frequentemente se encontram e, às vezes, se confundem.

É muito frequente as duas disciplinas se encontrarem, sobretudo porque a Psicologia é uma das principais fontes de sustentação de trabalho do Coaching.

A Psicologia foi adquirindo, ao longo de seu desenvolvimento, diferentes áreas de atuação, enquanto ciência voltada para melhor compreensão do comportamento humano. Com o avanço dos estudos, a Psicologia pôde ser aplicada a diferentes manifestações de necessidades humanas.

Ela aparece hoje em inúmeras modalidades profissionais, buscando atender às mais diversas formas de necessidades humanas, tais como: Clínica, Psicanálise, Behaviorismo, Esportiva, Educacional, de Vendas, Jurídica, Infantil, Social, Organizacional, de Comunicação, etc.

Da mesma forma, o Coaching se apresenta hoje em modalidades as mais diversas, tais como: Self Coaching, Coaching Profissional, Coaching de Carreira, Coaching Educacional, Coaching de Vendas, Coaching Esportivo, Coaching de Saúde, etc.

Há ocasiões em que ambos podem se confundir. Muitas vezes algumas atividades que se intitulam como psicológicas, seriam melhor definidas como Coaching. É o caso de aplicações à área esportiva, de vendas, jurídica, e outras.

Por que o Coaching está fazendo tanto sucesso?

Esta é uma pergunta e tanto. Por que será que o Coaching vem ganhando cada vez mais espaço? Por que profissionais de todo tipo de formação estão fazendo cursos de formação de Coaching? Por que tantas escolas de formação se multiplicam por toda parte?

Certamente porque o Coaching veio cobrir um espaço vazio. Porque as diferentes profissões não vinham atendendo a alguma grande carência. Carência esta que a psicologia ou a pedagogia, entre outras, não estavam cobrindo.

Carência de que? Me pergunto. Arrisco uma resposta e minha experiência como Coach e Mentor reforça muito esta resposta. Diante de um mundo em aceleradas mudanças de toda ordem, que tornam rapidamente obsoletas tecnologias, valores e crenças, as pessoas buscam novas formas de encontrar seu rumo, de encontrar novas formas de enfrentar situações às vezes inesperadas, de aplicar novas ferramentas para atingir novos objetivos, para não ficarem, elas também, obsoletas num mundo em transformação.

E o Coaching vem dando respostas novas, de forma mais ágil. As pessoas sentem necessidade de desenvolvimento, de meios de crescer e criar novos espaços que melhor atendam às necessidades emergentes.

E a Psicologia não vinha dando resposta a isto, pelo menos não era isto o que oferecia. Oferecia resolver os problemas do passado que interferiam no presente, mas não oferecia opções futuras, para onde ir, de que jeito ir, com quem ir. A Psicologia não perdeu sua razão de ser, mas deixava aqui um grande vazio.

Este vazio começa a ser preenchido pelo Coaching.

Mas há muito espaço para as duas disciplinas profissionais. O medo e a insegurança diante do futuro parece que vem num crescendo preocupante. E eles causam todo tipo de desajustes mentais e, sobretudo, emocionais. E este é o campo de ação da Psicologia, sobretudo a Psicologia clínica, mas também das modalidades de aplicação da Psicologia como ciência, seja no campo de busca de equilíbrio pessoal, busca da felicidade, seja de encontrar novas formas de convivência familiar e profissional.

A formação do Coaching não torna ninguém apto a resolver problemas de ordem psicológica. Coaching não cura depressão, nem ansiedade, nem esquizofrenia. Aqui deve entrar o psiquiatra ou o psicólogo, preparados em cursos longos para dar uma mão às pessoas que sofrem dessas dores profundas.

Creio que ficou bem claro, portanto, que o Coaching não veio ocupar o espaço dos psicólogos.

O que realmente vale, então? A meu ver, o mais importante nesses casos é ver qual é a intenção básica do profissional que está atuando. É para o benefício das pessoas? Este deve ser, sem dúvida, a principal razão de ser do psicólogo ou do coach. Ou mesmo a razão de se tornar um psicólogo coach ou coach psicológico.

Aliás, tem se mostrado muito profícuo aos psicólogos fazerem uma formação em Coaching, pela abertura maior de recursos para atendimento de seus pacientes.

O que fundamentalmente irá diferenciar o profissional é a visão de mundo que o conduz. O profissional precisa entender que não existe conceitualmente um enfoque correto ou errado, mas sim aquele enfoque que mais se aproxima de suas concepções e visões sobre o homem e sua relação com o mundo. E, o mais importante, qual a metodologia e quais os recursos que podem oferecer os maiores benefícios a seus clientes, um atendimento pela Psicologia ou um atendimento de Coaching, ou os dois de forma integrada.