A diferença entre Decidir e Agir
Decidir e agir logo em seguida, por que isso é tão dificíl?
Nós tomamos decisões a todo momento. Desde a hora em que acordamos, temos que decidir: levantar já ou não, tomar banho ou não, que roupa vestir, se vamos tomar café, o que comer, para onde ir, o que levar, de que jeito ir, e assim por diante. Nada fazemos sem que, de alguma forma, tomemos decisões.
De forma que, para agir, temos que decidir: o que, como, com que, porque, para que, etc. E a maior parte disso se passa em nosso inconsciente, não é mesmo? Mas há um fato incontestável: toda ação é comandada por nossa mente, que é quem decide, mesmo quando decide ser obediente a um comando que venha de fora.
A Dinâmica Mental no Processo Decisório
Nesse processo de decidir e agir temos, sinteticamente falando, três áreas de nossa mente que atuam: o racional, o emocional e o operacional. Nosso agir, nosso fazer (área operacional) é determinado por nossa área racional ou pela área emocional.
Vou usar uma linguagem bem simples para me fazer entender.
O lado racional da mente capta uma determinada necessidade e começa a avaliar o que há pela frente. Imediatamente nossa mente passa a processar milhares de dados contidos em nossa mente e em nosso entorno. Há uma imensidão de coisas que vão atuar desde nosso inconsciente. O escritor indiano Deepak Chopra, radicado nos Estados Unidos, diz que “tanto eu quanto você somos escolhedores infinitos”. Temos que escolher uma ação (decidir para agir) a partir de uma infinidade de alternativas e interferências.
Em base a que fazemos nossas escolhas? Em base ao que está em nossa mente, tal como: o que podemos e o que não nos é permitido escolher. Em termos pessoais, vamos escolher segundo nossas crenças e valores, isto é, segundo os princípios que aprendemos de nossos pais, da escola, da TV, da comunidade. Segundo nosso “recheio mental” ou então o que conhecemos da realidade relativa ao que temos que escolher, nossa experiência. Do ponto de vista profissional, vamos escolher segundo os paradigmas consciente e inconscientes que nos determinam os valores e crenças a seguir.
E isto não é tão simples. Tudo que se passa pela mente racional mexe com o lado emocional. Agregadas às nossas crenças, valores ou paradigmas, temos nossas vibrações emocionais. Kant que me perdoe, mas não existe razão pura. Nós temos mecanismos, na maior parte inconscientes, que provocam em nós reações de aceitação ou rejeição, motivados por nossas crenças e valores básicos (“recheio mental”). Observe uma discussão. O clima costuma ir se acalorando, os dois lados se armam de mil argumentos, o tom de voz sobe, etc. A razão se põe do lado para onde correu a reação emocional. Por mais que eu ache tal posição como óbvia, o antagonista terá argumentos contra. Por que? É que quem está no comando é uma forte emoção – geralmente dos dois lados.
Decidir e Agir quando se é Líder
E o que tem a tomada de decisão com isso? Nós geralmente pensamos que nossas decisões são racionais, pois temos todos os argumentos para garantir isso. Mas, por trás de nossos argumentos estão nossas crenças e valores, a maior parte inconscientes, que estão carregadas de nossas emoções. Quando nossa razão diz que é por tal caminho que devemos ir e nosso campo emocional diz “gostei”, aí, sim, nossa decisão nos leva à ação. Mas, se a razão diz que deve ser de tal modo, mas a emoção diz “não gostei” ou “tenho medo”, no mínimo vamos ficar indecisos, ou vamos nos sentir culpados por agir segundo a razão. E a culpa que acompanha tem sempre uma forte carga emocional, que pode fazer com que dê tudo errado, errado segundo nossos princípios. Essa mesma defesa também pode explicar o que nos faz procrastinar.
Mesmo quando seguimos rigorosamente os passos do pensamento científico – definição do foco, seleção do referencial, proposição de hipótese, coleta de dados, diagnóstico, brainstorming, priorização e decisão o processo mental não é tão simples. Diante da tomada de decisão a gente treme. Por maior clareza mental que buscamos ter nas etapas anteriores, comandadas principalmente pela razão, agora “no vamos ver” surgem mil dúvidas. Será que vai dar certo? É que agora estamos diante do probabilismo, da incerteza diante do futuro. E para decidir é preciso se armar de coragem. Eis aí outra vez o emocional vindo com carga total.
O passo mais importante de todo o processamento mental terá que ser comandado pelo lado emocional. É preciso vencer o medo, a insegurança. Decidir é sempre um ato de fé. É por isso que existe tão pouca gente com coragem de decidir. A maioria das pessoas se esconde atrás de um “me mandaram fazer”, “foi o chefe”, “minha ideologia ou minha religião assim determinam”. É por isso que são tão raros os verdadeiros líderes, que decidem e pagam o preço. Em um processo de Mentoring, é possível chegar a esta conclusão, de quem é o comando.
Decidir e depois agir segundo a decisão é, pois, um ato pessoal, mesmo quando no contexto institucional. Pois exige espírito de liderança.
Um pequeno exercício pode ajudar a tornar mais assertiva a decisão. Você (e seu grupo, se você estiver na liderança) dê um tempo para consultar sua intuição. Respire fundo, centre-se e perceba como seu corpo está aceitando a decisão. O corpo fala e não mente nunca. Sinta se a decisão está de acordo com a vibração no seu centro interior.
Diferença e Integração entre Decidir e Agir
O passo seguinte, depois de decidir é agir, não é mesmo? Acontece que isto não ocorre automaticamente. A tomada de decisão não elimina as dúvidas, incertezas e inseguranças. Apenas dá direção, dá rumo àquilo que se quer alcançar. Quantas decisões são tomadas, até mesmo por escrito, e depois são esquecidas, desviadas, largadas em gavetas!
Isso ocorre mais frequentemente quando uma decisão fica no âmbito da racionalidade, quando não é, por assim dizer, apossada por emoções positivas de afirmação pessoal (ou grupal, quando é o caso), assertivas, categóricas, firmes. Mais que as confirmações racionais, é a força emocional que faz as decisões acontecerem na prática. Diante de uma ação mal feita às vezes dizemos: “Acho que vocês não entenderam bem”. Na verdade, o que acontece geralmente é que o grupo (ou a pessoa) não se sentiu suficientemente motivado a bem fazer. Aí temos de novo a emoção.
O mundo da razão é o mundo do certo e incerto, é rígido em suas concepções. O mundo da emoção, sobretudo em seu mais alto grau que é a intuição, é flexível, flutua nas ondas dinâmicas da vida. O mundo da emoção positiva, da intuição, está radicado no presente, olhando o futuro como desafio de realização.
Aí sim, pode-se dizer que decidir leva a agir, que a decisão, tomada com coragem, é capaz de agir, mesmo quando surgirem imprevistos. Porque uma decisão firme, clara e consciente, está pronta para fazer acontecer, encarando as dificuldades e novas circunstâncias que possam se interpor. Isso sim, está envolvido em um processo de Mentoring realmente eficaz.
Só não esqueça de fazer um bom Plano de Ação, um planejamento operacional de como fazer acontecer o que você decidiu.
1 comentário em “A diferença entre Decidir e Agir”
Incrível texto!
Uma ótima oportunidade para ter insights e refletir a partir do texto. Muito claro e bem colocado!