Sempre fui muito idealista, intensa e um tanto perfeccionista.
Como você pode imaginar, à medida em que os desafios da vida adulta se tornaram mais complexos, equilibrar essas características se tornou bem mais difícil… E foi o que me moveu a procurar ajuda e encontrar o Instituto Holos, em especial o Marcos Wunderlich, que tem sido um presente na minha vida.
Sou a filha do meio do Pedro e da Maria Helena, irmã do Edmilson e da Sheila… Cresci exposta a ricas experiências culturais, nascida no Rio Grande do Sul e aos nove anos de idade iniciando uma jornada de mudanças de cidade e Estados, incluindo Maranhão, Bahia, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Aos 23 anos, já concluindo o mestrado em Administração, comecei a trabalhar em um multinacional do setor elétrico, na área de Comunicação Corporativa, minha formação de base. Nessa mesma época, conheci o Rafa, que dois anos depois se tornaria meu marido, e hoje nós temos duas filhas: a Lara e a Lissa.
Muito amor, muitas conquistas, mas também um esforço extremo para tentar ser praticamente perfeita! Será que consegui? É claro que não!! Consegui foi sofrer anos com uma enxaqueca terrível, que nos intervalos livre de dor me fazia me esforçar ainda mais para dar conta de tudo que não era possível na hora da crise.
Conhecer os referenciais ISOR me permitiu lidar com a vida com mais leveza. A primeira consciência foi em relação à ideia de ISOMORFISMO e de que tudo está em constante movimento na vida. O isomorfismo se refere ao viver com mais qualidade e coerência, em sintonia com as leis universais que regem nossa existência aqui na terra. Ou seja, trata-se de aceitar tudo como é e mover-se em harmonia com a realidade, sem precisar “lutar” contra ela (rejeição) ou dispender um grande esforço para sustentá-la (apego).
No exemplo da minha própria vida, significava aceitar que a realidade de uma mulher muda quando ela decide tornar-se mãe. Ao darmos esse maravilhoso sim à vida, precisamos acolher com sabedoria esse novo ciclo. Quando ampliamos nossa visão, reconhecemos que querer somar papéis e manter uma “alta performance” ilusória em cada um deles é insano e até cruel, na verdade.
Na perspectiva de que a vida é movimento, cabe a nós termos clareza de que os Ciclos têm início, meio e fim, abrindo novas transformações no fluxo da vida. Reconhecer a ideia de vida em ciclos traz profunda paz, uma vez que essa consciência nos permite abandonar o que não faz mais sentido e nos abrir para o futuro que emerge. As ferramentas ISOR nos mostram que, ao iniciarmos um novo ciclo, é natural vivermos o desconforto ou muita empolgação, pois ainda estamos aprendendo e nos “atualizando” no cenário atual. Em seguida, vamos incorporando as mudanças, nos adaptando e as coisas pegam ritmo, chegando no estágio de “função”, que corresponde ao meio do ciclo. No terceiro estágio, o de “escalonamento”, começamos a sentir um novo desconforto, como se o sapato começasse a apertar o pé. Esse é o sinal de que rumamos a um fechamento de ciclo, que exige certa energia para vivermos a sua “epigênese”, que podemos entender como “o ponto de mutação”. Esse momento costuma vir carregado de ansiedade, angústia e às vezes medo, porque não há certezas do que está por vir. Quanto mais estamos centrados, cultivando um estado de Presença, mais serenidade temos para viver as várias “epigênesis” da vida, de forma a nos enriquecer com os aprendizados que elas trazem.
O resultado de uma epigênese pode ser o fim de um ciclo, que fica na história da nossa existência, ou pode ser a transformação e renovação de algo, que continua existindo com nova configuração nas nossas vidas, em sintonia com o movimento maior que nos rege.
Esses ciclos acontecem tanto na vida profissional quanto nos relacionamentos, por exemplo. Na minha carreira, a experiência na multinacional traz claramente essas etapas: Atualização, Função, Escalonamento e Epigênese. Primeiro, quando fui selecionada no programa de trainee e passei a fazer parte de um grupo que contava com todo o suporte para aprender rapidamente. Nós viajávamos para conhecer as usinas da empresa, tínhamos reuniões com todos os departamentos para entender o papel das diferentes áreas e cada trainee criou um projeto na sua própria área de atuação. Foi um ano de “atualização”, no qual uma dose de ansiedade e expectativa misturava-se à uma excitação pelo novo. Após a formatura do programa de trainees, cada um de nós entrou numa rotina de trabalho, de acordo com a sua atividade, caracterizando a fase da “função”. Depois de alguns anos propondo e realizando projetos, eu não me sentia mais aprendendo, e sim repetindo ações rotineiras, muitas vezes com minha expectativa de jovem profissional não mais atendida. Nesse período de “escalonamento”, busquei alternativas em outras áreas da empresa, para oxigenar, mas as oportunidades não se concretizaram. Ao descobrir que estava grávida, tentei negociar um horário flexível de trabalho, mais adequada à essa nova fase da vida que estava por vir. Os condicionamentos rígidos do mundo corporativo à famosa CLT não permitiram essa adequação e optei por pedir demissão, encerrando aquele ciclo, que já não alegrava a minha alma.
Depois de um tempo me “atualizando” no ciclo da maternidade, me permiti vivenciar um novo ciclo profissional numa empresa de tecnologia, dessa vez como coordenadora da equipe de comunicação, sendo a minha primeira experiência gerindo pessoas. Foi um ciclo tão intenso quanto rico, que me exigia cada vez mais, uma vez que eu também substituía o gerente da área de marketing por vários momentos, assumindo então as áreas de Marketing de Produto, Inteligência de Mercado e Prospecção de Vendas, além da Comunicação.
Enquanto isso, a vida pessoal também passava por transformações. Assim como o ciclo do namoro passou por uma epigênese e evoluiu para o casamento, o início da maternidade e paternidade configurou um novo ciclo, ainda mais rico, mais frutífero e com novos desafios. Aqui vale a pena ressaltar a interdependência da vida das pessoas, numa perspectiva sistêmica. Ao mesmo tempo em que eu vivia meus próprios processos evolutivos, o Rafa, meu marido, também vivia os dele. No momento em que eu estava feliz e em plena função na nova empresa, ele vivia uma transição profissional que exigiu muita energia. E nessa fase, descobrimos que a nossa caçula estava a caminho. A diferença de idade entre a Lara e a Lissa é de apenas 2 anos e 5 meses, o que para uma mulher idealista, intensa e um tanto perfeccionista, abalou minhas estruturas.
E foi nesse ponto da vida que eu conheci os referencial ISOR. A realidade era que eu não tinha como mudar rapidamente o sistema de trabalho no mundo corporativo, e eu queria de verdade estar mais presente com as minhas filhas, que iriam crescer no ritmo da natureza e não do mercado. Então eu pedi demissão de novo, vivi a liberdade de ter tempo com as minhas meninas, e mudei toda a minha forma de trabalho.
Comecei a atuar com desenvolvimento humano nas empresas, desenvolvendo líderes na perspectiva de ser integral (físico, mental, emocional, social e espiritual). Ao expandirmos a consciência das pessoas nas organizações, criamos espaços de respeito, comunicação clara e escuta empática, que se reflete em colaboração, mais criatividade e alegria no trabalho. A compreensão de que estamos todos interligados também fomenta práticas de negócio mais humanizadas e conscientes, como o cuidado com a natureza e o compromisso de gerar valor real para os clientes, por exemplo.
Mas o propósito maior que me move é contribuir para a transformação da forma como vivemos e trabalhamos, no sentido de termos uma vida mais integrada e feliz, com tempo para o cultivo da espiritualidade e do amor.
Sobre a Autora
Shirley Ortiz é mentora de líderes e consultora em Comunicação e Cultura Organizacional, criadora do podcast “Líderes de um Novo Mundo” e embaixadora do Capitalismo Consciente. Para saber mais, acesse: https://www.shirleyortiz.com.br/
Conheça também: https://www.youtube.com/channel/UCxc0K1EOt3NtFLGWL_xiJuA
1 comentário em “Ciclos de vida, trabalho e amor – por Shirley Ortiz”
Parabéns! Cada vez que leio algo que você escreve ou fala, me identifico muito, interessante que escrevi no domingo de Páscoa sobre epigênese e hoje estou aqui lendo seu texto também sobre ela! E vc monstrando na sua história de vida cada “passo” do processo!
Sou muito grata e fico muito feliz de apesar de longe fisicamente termos oportunidades de compartilhar experiências e sonhos que vamos ver se realizar no mundo corporativo e integrar o Ser Humano.