A palavra decisão se origina do latim e quer dizer: separar, cortar. Mas, será que é isto mesmo? Separar de quê? Cortar o quê?
Vamos ver isto de perto. Há pessoas que decidem olhando para trás. Querem melhorar o que já existe, querem corrigir o que julgam estar errado. Será que isto é cortar? Separar? Romper com alguma coisa? Ou será querer segurar alguma coisa? Será que, em vez de de-cidir, o que ocorre é ceder? Não seria mais um ajeitar para continuar o mesmo? Não seria mais uma in-de-cisão? Uma não (in) fazer a cisão, o corte, a ruptura? Isto é, segurar, reter, manter do mesmo jeito, só um pouco melhorado?
Além do mais, só tem verdadeira liderança quem tem coragem de romper com alguma coisa, de arriscar algo novo.
Pela neurociência sabemos que as decisões são tomadas tanto pela inteligência racional como pela emocional. Ambas se complementam para geram a ação, a decisão.
Acontece que algumas pessoas são muito racionais e outras muito emocionais. As muito racionais pensam, pensam… Coletam dados (o que já foi), comparam (entre coisas que já foram), fazem estatísticas (quantas vezes já aconteceu ou não aconteceu) e custam tomar decisão, por medo errar, pois a razão não admite erros, pois tudo “tem que estar certo”! “Como é que posso arriscar, se não tenho certeza”? E ficam presas no passado, que é racionalmente mais seguro. Têm medo de arriscar.
Os muito emocionais não pensam, vão no grito, no impulso, decidem por medo, por entusiasmo do momento, para agradar alguém. Ah! Então são os emocionais que podem ser líderes? Será? Depende que que tipo de emoção. Quando o impulso que toma decisão é causado pelo medo, pela angústia, pela insegurança, estas são emoções presas ao passado, tendem a ser muito unilaterais, não veem o todo, as consequências.
Quando bem utilizadas, as duas se completam. A razão dá calço, dá embasamento, faz a necessária triagem, permite maior clareza mental sobre a questão. A emoção dá força à percepção, gera motivação e impulsão, permite desfazer medos e hesitações, dá coragem para tomar decisão.
Vamos mais a fundo: Pela razão, a primeira coisa a fazer é clarear bem a questão sobre a qual se quer decidir alguma coisa e focar nela. Aí vai-se levantar os dados para ter claro em que consiste a questão. É o que se chama de coleta de dados. Nesta fase, faz-se pesquisa de campo, pesquisa bibliográfica, estudam-se documentos relativos ao assunto, etc.
Tudo isto para quê? Para conhecer como é que se chegou até aqui. Isto é, puxa-se tudo do passado para trazer até o presente: a situação ou a coisa é esta, está claro?
Aí vem uma pergunta que muitas vezes é esquecida: e como é que isto se reflete na pessoa, no grupo, na empresa, na comunidade? Como é que isto é sentido? Provoca que emoções? Dor, sofrimento, desânimo, surpresa, alegria, angústia, desânimo, etc.?
Por que é importante conhecer os sentimentos com os quais a realidade está sendo encarada? As pessoas estão aceitando o diagnóstico ou a forma de ver a questão? É que, antes de buscar saídas, soluções, caminhos de superação, é preciso aceitar que é assim mesmo que estamos vendo, é assim que é, para nós, esta realidade. Isto é, aceitar a realidade como é, como se nos apresenta.
A razão nos mostrou como é. Mas, nem sempre é fácil aceitar que é assim. Esta aceitação é um ato de vontade. É preciso ir além da razão e das emoções. E agora sim, é que devemos decidir se só vamos fazer um remendo, dar uma ajeitada para ver se dá para tocar mais um pouco, ou se temos coragem de mudar, de encontrar caminhos novos, dar um salto real de qualidade.
Para esta segunda opção, precisamos de verdadeira liderança, gente com coragem de assumir riscos, coragem de de-cidir, de romper com o passado, mas com capacidade de envolver as pessoas da família, do grupo, da equipe, da empresa, da comunidade. De motivá-los a juntar as energias para eu, nós, toda a equipe tomar uma decisão com toda força e dispostos a pagar os preços da decisão. Aqui não vai existir culpados, só responsáveis, corresponsáveis.
Existe aqui um segredo, que pouca gente conhece. O segredo é que nós temos, cada pessoa tem, a sabedoria dentro de si, lá no nosso íntimo. Esta sabedoria, que está em nós, está ligada à sabedoria do universo. Ela já tem as respostas necessárias a cada momento de vida. O segredo é nós acessarmos esta sabedoria.
Como na etapa anterior já se criou densidade, já se aceitou que a realidade é o que é, agora a gente busca um momento de silêncio interior – pode ser um segundo, um minuto ou uma hora, dependendo da situação – e, com a mente livre de preconceitos e crenças limitantes, me ligo ao campo de potencialidades que a realidade contém e deixo vir à tona as possibilidades novas. Deixamos que a sabedoria interior nos guie e, calmamente, agarremos com coragem a solução que vem.
Agora vai para a ação. O que precisa fazer para dar o salto de qualidade você já sabe. Planeje como fazer acontecer o que aflorou. Siga os passos do planejamento. Esteja atento aos feedbacks que vão ocorrendo, redirecione o que precisa. Mas não olhe para trás. Tome a decisão. Este é o verdadeiro Líder.